As Palavras

Adiro a uma nova terra adiro a um novo corpo
É um corpo que se tornou palavra
Segue-se a narrativa das transições:
as palavras identificam-se com o asfalto negro
o tropel das nuvens
a espessura azul das árvores acesas pelos faróis
o rumor verde

As palavras saem de uma ferida exangue
de teclas de metal fresco
de caminhos e sombras
da vertigem de ser só um deserto
de armas de gume branco

Há palavras carregadas de noite e de ombros surdos
e há palavras como giestas vivas

Matrizes primordiais matéria habitada
forma indizível num rectângulo de argila
quem alimenta este silêncio senão o gosto de
colocar pedra sobre pedra até à oblíqua exactidão?

As palavras vêm de lugares fragmentários
de uma disseminação de iniciais
de magmas respiradas
do odor de gérmen de olhos

As palavras podem formar uma escrita nativa
de corpos claros

Que são as palavras? Imprecisas armas
em praias concêntricas
torres de sílex e de cal
aves insólitas

As palavras são travessias brancas faces
giratórias
elas permitem a ascensão das formas
elevam-se estrato após estrato
ou voam em diagonal até à cúpula diáfana

As palavras são por vezes um clarão no dia calcinado

Que enfrentam as palavras? O espelho
da noite a sua impossível
elipse
Saem da noite despedaçadas feridas
e são a minúscula uz das frestas
entre as pedras piramidais

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